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15 dezembro, 2011

Centenário Nascimento
Alves Redol-  1911/2011
O pai via-o amuado pelos cantos e perguntava às mulheres da casa:
- Que diabo tem o rapaz?
E, como ninguém lhe explicasse aquela tristeza, trouxe-o uma tarde para junto do Tunante, o cão guardador do curral das vacas.
Ali se puseram em conversa.
Foi a primeira conversa a sério que o Silvestre Cuco teve com o filho. Este nunca mais esqueceu tal dia, em que fez uma das descobertas mais surpreendentes da sua vida.
Falaram de homem para homem. Sim, senhor, de homem para homem, e o Constantino sabe bem o que lhe custou essa conquista. Quando se abriu com o pai para lhe confessar que a mãe não gostava dele por causa do nariz, apareceu-lhe de repente nos olhos uma grande vontade de chorar. Embargou-se-lhe a voz, as palavras começaram a sair todas cortadas, e vai então o pai disse-lhe assim:
- Um homem nunca chora, mesmo que veja as tripas doutro na mão...

Apressado, o Constantino deitou a ponta dos dedos a umas lágrimas que queriam rebentar, e ali mesmo as esmagou, segurando as outras todas que já vinham numa carreirinha para fazerem o pranto. Baixou a cabeça por instantes, erguendo-a depois com um sorriso. Encararam-se, o pai animou-o com um olhar que ele conhecia, e o Constantino percebeu que ganhara nesse dia o seu melhor camarada.
In Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos, Alves Redol

04 dezembro, 2011

De sacola e bordão, o velho Garrinchas fazia os possíveis por se aproximar da terra. A necessidade levara-o longe de mais. Pedir é um triste ofício. E ali vinha de mais uma dessas romarias, bem escusadas se o mundo fosse doutra maneira.