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23 novembro, 2008

" As palavras são para mim corpos tocáveis, sereias visíveis, sensualidades incorporadas.

Estremeço se dizem bem. Tal página de Fialho, tal página de Chateaubriand fazem formigar toda a minha vida em todas as veias, fazem-me raivar tremulamente quieto de um prazer inatingível que estou tendo. Tal página, até de Vieira, na sua fria perfeição de engenharia sintáctica, me faz tremer como um ramo ao vento,num delírio passivo de coisa movida.
Não choro por nada que a vida traga ou leve.Há, porém, páginas de prosa que me têm feito chorar. Lembro-me como do que estou vendo, da noite em que, ainda criança, li pela primeira vez, numa selecta,o passo célebre de Vieira sobre o rei Salomão "Fabricou Salomão um palácio...". E fui lendo até ao fim, trémulo, confuso, depois rompi em lágrimas felizes, como nenhuma felicidade real me fará chorar, como nenhuma tristeza da vida me fará limitar. Aquele movimento hierático da nossa clara língua majestosa, aquele exprimir das ideias nas palavras inevitáveis, correr de água porque há declive, aquele assombro vocálico em que os sons são cores ideais tudo isso me toldou de instinto como uma grande emoção política. E disse, chorei, hoje, relembrando ainda choro. Não, não é a saudade da infância de que não tenho saudades; é a saudade da emoção daquele momento, a mágoa de não poder já ler pela primeira vez aquela grande certeza sinfónica." Fernando Pessoa

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